Eu tenho um sonho. Não, não quero ir à Lua, viver numa estrela ou até mesmo dar a volta ao Mundo. Também não quero usar “clichés”, insolentes conjuntos de palavras que têm levado à desvalorização de sentimentos como o amor, a paz ou a liberdade. Impossível esquecer episódios caricatos como aqueles em que a Miss Mundo diz que o seu sonho é conquistar a paz mundial, acabando com esta ou aquela guerra. Pois bem, o meu é bem diferente: o meu sonho é que as pessoas nunca deixem de sonhar.
Tenho me apercebido que, há medida que as pessoas vão crescendo, vão perdendo gradualmente a sua capacidade de sonhar. Isto deve-se à perda (igualmente gradual) da inocência e de um aumento das responsabilidades que somos obrigados a enfrentar todos os dias. Hoje em dia, muito pouca gente perde tempo com os seus sonhos. Assim, estes são comparáveis às estrelas: são portadores de uma beleza e de um brilho enorme mas são também algo que nunca se irá alcançar. Só quem possui ousadia e coragem q.b. é que consegue, a meu ver, sentir na boca o gosto da completa realização pessoal.
Gandhi sonhou que um dia a Índia ia ser um país independente e, através da prática dos seus ideais e da sua incrível força interior, ele conseguiu. Luther King tinha um sonho no qual negros e brancos conseguiriam coexistir de forma pacífica num futuro próximo. Graças à sua coragem, conseguiu agarrar com força a sua vitória. E tudo isto porque nunca perderam a capacidade de sonhar, lutando todos os dias, todas as horas pelas suas convicções e ideais, conseguindo mudar irreversivelmente o curso da Humanidade. John Lennon apelidava-se de sonhador em “Imagine” quando apregoava a existência no futuro de um Mundo sem guerras, ambições nem pobreza. Alcançou o sucesso e conseguiu fazer o que se considera ser uma das tarefas mais difíceis: mudar mentalidades.
Estes três homens morreram pelos seus sonhos e por isso admiro-os profundamente. Porque acharam que os seus sonhos eram demasiado preciosos para que não lhes dessem a vida.
Porque fizeram exactamente o contrário daquilo que se esperava: não viveram por um sonho, morreram por ele. A generalidade das pessoas ignora os seus sonhos porque diz prezar a sua vida (ou será “vidinha”?) e não quer ser dono de grandes preocupações. Desta forma, estas pessoas não estão a preservar a sua vida, mas sim a sua morte. Como nunca são verdadeiramente realizadas e, portanto, inconscientemente infelizes, nunca chegam a viver verdadeiramente e a “sentir tudo de todas as maneiras”.
Olho para o Mundo actual e não deixo de pensar em Barack Obama como um exemplo de um sonho que aos poucos foi ganhando forma graças à sua inacreditável coragem. Lutou e venceu.
Termino com uma citação de Sepúlveda que penso resumir tudo o que vai na minha cabeça e que não consigo expressar tão bem como este grande mestre da literatura sul-americana:
“Creio que não há sonho mais belo do que o de um Mundo onde o pilar fundamental da existência seja a fraternidade, onde as relações humanas sejas sustentadas pela solidariedade, um Mundo onde todos compartilhemos da necessidade de justiça social e actuemos com coerência. Mas se não formos audazes, o que não é sinónimo de irresponsabilidade, se não formos terrivelmente audazes com os nossos sonhos, e não acreditarmos neles até os tornar realidade, então os nossos sonhos murcham, morrem e com eles, nós também”.