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3 de outubro de 2011

Nostalgia do meu bem perdido - 2

Desço a ravina aos solavancos e um cheiro doce a uvas maduras desperta-me os sentidos. Folhas secas povoam o chão e eu sigo o meu percurso de memórias guardadas. Ao longe, ouço o som abafado de conversa de vizinhas pautada pelo murmúrio das aves. Há maças caídas no quintal, galinhas a esgaravetar, um cão que ladra de saudade, uma sardanisca no muro, um gato vadio ao sol.
Verde, amarelo, bege e azul são as cores que preenchem esta paisagem bucólica dominada por uma discreta pacatez tão característica. As árvores deixam-se levar pela brisa suave, quente. Eu também. A melancolia invade-me aos poucos, como se pedisse permissão para levar cada pedaço meu. Sinto-me livre, despreocupada. Como se esta ambiência me levasse para bem longe e me enchesse a alma de sossego. Mas outrora não era assim ...
E a descida íngreme continua, ladeada por ervas daninhas donas de uma beleza única e rebelde.
Fecho os olhos. Há coisas de que não me quero lembrar. E entretanto sinto o aroma leve de despedida. Aroma de infância perdida.

28 de setembro de 2011

Nostalgia do meu bem perdido - 1

Caminho pelas pedras gastas da calçada. Cada uma delas traz uma memória à minha cabeça. Caminho lentamente com a solidão, com a mente embebida em sonhos, rercordações, pedaços de mim que se perderam há muito tempo. Ao pisar as pedras da calçada, tudo se reúne novamente, como se o meu interior fosse um colar de pérolas que quebrou.
As pérolas esparsas vão-se juntando. Ganham um brilho enternecedor. E os olhos enchem-se de lágrimas e um sorriso é pintado nos lábios.
E eu que caminho aos solavancos pelas pedras cinzentas, imundas e gastas da calçada olho em frente com o coração a bater velozmente. Contemplo o rio. E quantas lembranças me traz.
Inspiro profundamente. De imediato, o meu olfacto delicia-se com um aroma tão característico. Cheira à casa da avó. Cheira a eucaplito, a cebola de refogado, a praia fluvial, a uvas maduras, a ervas daninhas, a flores de mil cores. Cheira a infância.

19 de agosto de 2011

Submarino.

Vivo mergulhada neste espaço vazio e tão cheio ao mesmo tempo, nesta solidão a transbordar de pensamentos onde o óxigénio falha. Sufoco, sufoco em mim, na minha mente e olho em volta. Olho em volta e não estás. Saio da minha esfera difícil de quebrar, espreito a realidade e, rapidamente, sou de novo absorvida por esse mundo paralelo de ideias cruzadas, emaranhadas, turvas.
Levaste a minha razão contigo, é um facto. Por isso levitei até este espaço estranho que me acolheu e me engoliu. Preciso que voltes rápido e que me soltes, que rasgues as amarras que me prendem a este sítio profundo onde me encontro sentada, em estado autista, a ver a realidade a uma distância considerável. Quase que lhe consigo tocar mas há algo que se interpõe. Às vezes consigo mesmo alcançá-la, esticar a mão levemente para que possa flutuar neste mar de lágrimas e sentimentos que amarram com tanta força que até fazem sangue e deixam marcas nos pulsos. Mas não sou bem sucedida. Porque faltas tu e só tu. Porque há 605km entre nós. Ao menos consigo sentir o calor do teu coração.

17 de agosto de 2011

metamórphosis.

"Acabei" - disse ela para si mesma, com orgulho. O quadro finalmente estava pronto e correspondia àquilo com que ela havia sonhado. Resumindo, estava perfeito. O Sol entrava alegremente pela janela e o vento afastava, de forma tímida e leve, a cortina de cor pérola. Via-se pó no ar e sentia-se o cheiro de tinta fresca. Sentada num banco velho, de madeira, estava ela, contemplando a sua obra de arte. Os seus olhos espelhavam a satisfação que a alma sentia e ia esboçando sorrisos tolos. Estava feliz. A meta havia sido cortada, o troféu era dela, o pódio também. Como é bom sentir o sabor da glória.
Contudo, em poucos minutos a felicidade tinha partido para um lugar distante e duas lágrimas grossas caíam, de par em par. Dona de um sorriso desbotado, os seus olhos pareciam rodeados por uma camada grossa de tinta da china, que escorria; o seu tom de pele havia perdido a vitalidade natural e agora era pálido como a neve gelada.
Desequilibra-se do banco e fica no chão, imóvel, a assistir ao passar do tempo na esperança de que as horas lhe levassem os estilhaços de uma alma lacerada pela angústia, pela incerteza, pela ausência.
Sempre que ela se olhava ao espelho, não se reconhecia. Tinha-se perdido no labirinto do seu interior e já não sabia como encontrar a saída. Talvez porque a saída se fechou. Talvez porque já não há caminho de regresso. Talvez porque só uma pessoa a pode tirar do chão, abraçá-la e abrir-lhe a porta que ela própria não encontra. 
Se isso acontecer, ela vai sorrir de novo, vai correr pelo campo de feno e encher o cabelo com flores de mil cores. A porta que teima em fechar-se vai ser destruída. O verbo "sorrir" passará a integrar o seu quotidiano e juntar-se-à ao verbo "amar", o único que nunca a abandonou.

2 de agosto de 2011

um lugar vazio.


Há alguns dias que me encontro a flutuar num sítio que não conheço. Luto contra mim mesma, bato com os punhos cerrados na mesa de madeira, tomo decisões. Rodo vezes sem conta, tento sair deste lugar sufocante, claustrofóbico. Apercebo-me de que estou a remar contra a maré.
Continuo a deriva, sei de mim e não me encontro. Olho para o relógio mas o Tempo castiga-me e as horas passam, uma a uma, vagarosamente e de forma amarga.
Um grito reprimido, uma dezena de lágrimas que percorrem a face e molham os lábios. Desespero.
E os ponteiros do relógio que mal se movem ? E o Sol que tarda em se pôr ?
Deixo-me levar pela corrente que o Destino pré-definiu. Porque dói lutar inutilmente.
Um dia acordo, abro os olhos e vejo-te a sorrir para mim. Nesse momento farás de mim a pessoa mais feliz do Universo, garanto-te.

A Saudade corrói.

20 de abril de 2011

desabafo do coração, reflexo da razão.


X senta-se, depois levanta-se. Enche de passos o corredor exíguo, abafado, quase sufocante. Y roda impacientemente, entre os dedos, a sua garrafa agora vazia. Cruza e descruza as pernas, arranja-se na cadeira de madeira gasta, reles, tentando encontrar conforto onde nunca houve nem haverá. M suspira, abre o seu caderno e arranca violentamente uma folha. Começa a escrever suavemente e as gotas de suor que lhe caem do rosto tingem e misturam-se com a tinta que suporta as palavras. Palavras de raiva, de amor, amizade? Não se sabe. R chegou, olha em volta, sente-se desorientado. Provavelmente não esperaria que tal ambiente lhe pesasse tanto nos ombros, que quase o empurrasse de encontro ao chão de tacos levantados, empoeirado, sujo. Q olha X de cima a baixo, focando-se com mais pormenor no rosto. Deve conhecê-lo de algum lado, contudo, tudo se mantém constante, nada acontece. Como se todos fosses bichos embalsamados arrumados em prateleiras velhas, esquecidas algures no tempo, no espaço.
E eu que sou vidro partido na pedra, que senti os nervos à flor da pele, que estalei, estou aqui sentada a escrever. De vez em quando quebro. Aí pego nas letras e amarro-as umas às outras debaixo do chicote do meu pensamento, da minha imaginação. Escrevo para me reencontrar, para que os meus pedaços voltem a formar uma unidade. Não quero ser como as pérolas do colar que arrebentou e que agora estão dispostas, aleatoriamente, no chão à espera que alguém lhes confira uma ordem própria, um rumo.
Não sei quantos tique-taques serão necessários até tudo voltar à normalidade, por isso escrevo e sou livre. Escrevo e amarro palavras. Escrevo e conserto o que está partido. Escrevo e quebro o que inútil.
Vem molhar-me chuva, vem ser a catarse da minha razão. Beija-me amor, leva-me daqui, leva-me para onde os teus beijos quiserem. Mas leva-me. Abraça-me, faz com que eu sinta que consigo tocar, agarrar o que nos envolve. Quero sentir-te comigo, quero sentir-te mais do que nunca. Preciso de ti. Sem ti a vida fica distante e o sorriso não volta. Sem ti tudo é negro. Sem ti não vale a pena. És a minha Vida.

18 de fevereiro de 2011

Dia 9 - A música que te faz adormecer

Stay - Alt Ctrl Sleep



Stay with me for always
Stay, in time, forever
Stay, and I can love you
Stay with me forever
Stay, in time, for always


Uma melodia suave, doce. Carinhosa quando se sente a falta de quem se ama; reconfortante quando se está triste.
Um autêntico calmante para uma alma em contínua reviravolta.

16 de fevereiro de 2011

Dia 7 - A música que te faz lembrar um evento

I'm Easy - Faith No More


Esta música foi a banda sonora do acampamento do Verão de 2010.
Viana do Castelo estava à nossa espera.
Sol a bater na pele até escaldar. Azul forte da piscina. Céu risonho, ligeiramente escondido pelos ramos finos e delgados dos pinheiros. Areia fina da praia. Ondas que enrolavam em tubo, muito calmamente. O horizonte em tons laranja forte, povoado de parapentes. Jogar Trivial Pursuit ou cartas debaixo de um tecto incrivelmente estrelado.
Melhor Verão. Melhor Acampamento. Melhores Amigos. 

(foto tirada em segredo na praia de Viana)

13 de fevereiro de 2011

Dia 6 - A música que te faz lembrar algum sitio

Sad Song - Oasis

 


Sing a sad song
In a lonely place
Try to put a word in for me
It’s been so long
Since I found this place
You better put in two or three
We as people, are just walking ’round
Our heads are firmly fixed in the ground
What we don’t see
Well it can’t be real
What we don’t touch we cannot feel


Londres. Cheiro fresco do orvalho matinal misturado com o cheiro citadino. Londres. Grandes parques verdes e sossegados que despertam a vontade de deitar na relva e de ficar ali, a olhar para o percurso das nuvens no céu. Londres. Cidade invulgar, única, a transbordar de tantos retalhos e detalhes que lhe dão um toque marcante, especial. Londres. Ruas largas, lojas pitorescas, ambiente acolhedor e familiar. Londres. Novos costumes, novos hábitos, novas experiências. Londres. Melhor viagem de sempre. Londres. Tão simplesmente perfeito.

18 de janeiro de 2011

Memórias


Todos somos feitos de memórias, recordações. São elas que dão tempero à vida.
Quando abro o meu baú de recordações fico sempre nostalgica, com aquela gota cristalina no canto do olho que cresce e se diverte a percorrer um caminho na minha face. Tantos momentos já vividos, ainda os consigo sentir. Mas não os consigo agarrar, não os consigo reviver. E mesmo o pudesse fazer, não seria a mesma coisa. Porque são únicos, irrepetíveis, efémeros. Sinto Saudade.

17 de agosto de 2010

Expiração

          Olho para o mar na esperança de ver a minha alma, a minha vida regressar. Não sei quando voltarás nem onde estarás mas espero estar bem junto do teu coração. Escrevo-te no meu quarto escuro. Escrevo-te porque, se não o fizesse, creio que morria. Sinto mesmo a tua falta. Não há dia nenhum que não me lembre quão bons são os momentos que passámos juntos, quão maravilhosos são os sonhos que construímos. Há um vazio dentro de mim. Sinto que, se pudesse, conseguiria tocar-lhe. É denso, é esmagador. Todos os dias o meu peito é escavado. Todos os dias perco bocados de mim apesar de o exterior permanecer o mesmo. Sou um exterior sem interior. Sinto-me oca. Sou um corpo, simples e reles monte de matéria. A alma? Levaste-a quando partiste.   
        Sento-me na areia molhada. Observo compulsivamente cada onda, na ansiedade de poder ter um pouco de ti. À noite, contemplo o céu estrelado e penso se estarás a ver o mesmo que eu, no mesmo momento que eu; se estarás a contar as mesmas estrelas que eu e se estarás a pensar o mesmo que eu. Perguntas sem resposta. Estás incrivelmente longe, longe. Não consigo mais encostar-me ao teu peito e ouvir o teu coração bater, não consigo abraçar-te sequer. Choro de saudade, de nostalgia, de dor. Choro por te amar.
        Nada. É esta a palavra que mais tem ocupado a minha mente ultimamente. Sinto que não posso fazer nada, que não sou nada, que talvez possas vir a não sentir nada por mim. Impotência, incapacidade, incerteza, insegurança têm-me turvado a racionalidade. Aliás, tenho-me vindo a sentir cada vez mais irracional à medida que te amo cada vez mais.
         Quando voltas? Quando volto a mergulhar os meus olhos nos teus? Quando volto a sentir o sabor salgado do mar da tua pele? Uma vez mais, perguntas sem resposta. Até lá, deixo-me cair na cama e fico inexpressiva. A minha mente está em ti, o meu olhar está perdido em algo que não consigo identificar. Estou presa a ti pelo verbo “sentir”. E dói.
       Não te quero entristecer, nem tão pouco que te preocupes comigo. Quero que me ames e nada mais. Isso já me chega, é tudo o que preciso.  ♥