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31 de julho de 2012

O escuro


« O problema é deixar o escuro entrar na cabeça da gente »
Mia Couto

17 de agosto de 2011

metamórphosis.

"Acabei" - disse ela para si mesma, com orgulho. O quadro finalmente estava pronto e correspondia àquilo com que ela havia sonhado. Resumindo, estava perfeito. O Sol entrava alegremente pela janela e o vento afastava, de forma tímida e leve, a cortina de cor pérola. Via-se pó no ar e sentia-se o cheiro de tinta fresca. Sentada num banco velho, de madeira, estava ela, contemplando a sua obra de arte. Os seus olhos espelhavam a satisfação que a alma sentia e ia esboçando sorrisos tolos. Estava feliz. A meta havia sido cortada, o troféu era dela, o pódio também. Como é bom sentir o sabor da glória.
Contudo, em poucos minutos a felicidade tinha partido para um lugar distante e duas lágrimas grossas caíam, de par em par. Dona de um sorriso desbotado, os seus olhos pareciam rodeados por uma camada grossa de tinta da china, que escorria; o seu tom de pele havia perdido a vitalidade natural e agora era pálido como a neve gelada.
Desequilibra-se do banco e fica no chão, imóvel, a assistir ao passar do tempo na esperança de que as horas lhe levassem os estilhaços de uma alma lacerada pela angústia, pela incerteza, pela ausência.
Sempre que ela se olhava ao espelho, não se reconhecia. Tinha-se perdido no labirinto do seu interior e já não sabia como encontrar a saída. Talvez porque a saída se fechou. Talvez porque já não há caminho de regresso. Talvez porque só uma pessoa a pode tirar do chão, abraçá-la e abrir-lhe a porta que ela própria não encontra. 
Se isso acontecer, ela vai sorrir de novo, vai correr pelo campo de feno e encher o cabelo com flores de mil cores. A porta que teima em fechar-se vai ser destruída. O verbo "sorrir" passará a integrar o seu quotidiano e juntar-se-à ao verbo "amar", o único que nunca a abandonou.

2 de março de 2011

limite.


                        Encontro-me algures numa 
                                                                         ponte
                                                                                          suspensa.