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31 de julho de 2012

O escuro


« O problema é deixar o escuro entrar na cabeça da gente »
Mia Couto

3 de julho de 2012

Sophia

"Apesar das ruínas e da morte
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias."

20 de junho de 2012

pórtico


O mar bate na encosta e os sargaços que outrora integravam o "eu" estão à superfície, balouçam sem rumo.
A minha vontade leva-me para terras onde a natureza floresce e se exibe ao primeiro raio de sol; o meu dever acorrenta-me aqui e faz-me sangrar por dentro.
Por isso uso a máscara já gasta, de outros carnavais, outras instâncias de dor.
O problema é que ela acaba sempre por cair.
Na solidão.

3 de junho de 2012

(Re)descobertas

Hoje conheci o já conhecido. Uma descoberta utópica, intrigante, banal, ridícula. E é este carácter insuportável, raivoso e estúpido que provoca a desmaterialização de uma questão dogmática, aceite sem fundamento. 
É quando me apercebo da volatilidade das (in)certezas que concluo - a mente humana é deveras insolente. 

27 de fevereiro de 2012

primavera

E foi quando um aroma doce lhe encheu as narinas e o coração. Foi quando o sol decidiu mostrar o seu lado majestoso. Foi quando os pássaros decidiram levantar voo e viajar pelo mundo inteiro. Foi quando as pernas quiseram pular estrada fora. Foi quando os olhos quiseram olhar e ver tudo. Tudo.
As flores quiseram flutuar ao sabor do vento e as árvores quiseram pintar-se de cores vivas. O calor esquenta a pele, oferecendo bem-estar sem pedir nada em troca.
A natureza solta assim um cântico inaudível mas feliz que só alguns sentem ou estão dispostos a sentir. Envolve-nos assim nesta sinfonia de odores, de brisa suave que puxa o cabelo para os olhos. Inspira-nos, arranca-nos sorrisos tolos, faz os sonhos voarem mais alto. E eu que tinha os meus presos por um cordel de estrelas.

15 de fevereiro de 2012

metafísica intemporal

Há quem diga que há tempo para tudo. Para mim, o tempo é apenas uma palavra aborrecida que insiste em limitar os sorrisos, a ânsia de viver, de ser mais e maior. O tempo? Somos nós que o tecemos, que o cultivamos, que geramos no nosso ventre. 
O tempo é nada e é tudo. Eu gostava de ser tudo mas há momentos em que sou simplesmente nada. E o ser humano deve saber ser nada, deve saber-se humildar perante a vida, perante o destino, perante a metafísica.
Afinal de contas, o que somos nós?

8 de fevereiro de 2012

intermitência sem gente


Este copo de leite vazio que ainda me aquece as mãos geladas. Esta luz pálida e reconfortante que traz à vista a sombra de quem sou. Poderia ficar aqui, na beira da cama, durante horas, a pensar, a olhar, ora para o chão, ora para as paredes, para a cama, para o tecto. Em silêncio poderia pôr mil ideias em ordem, fazer duzentas anotações mentais, calcular trezentas e cinquenta e uma hipóteses, poderia deitar-me e dormir. 
Mas não. Há que ficar aqui a olhar sem ver, a pensar sem lógica, a divagar, a flutuar sobre mim. E como é bom poder ouvir o silêncio que enche este espaço, que se enfeita de grandiosidade infinita e graciosa. Como é bom poder estar na beira da cama sem eira nem beira, nesta intermitência sem gente, neste impasse vagabundo, nesta melancolia sem passado nem futuro. Como é bom não decidir, não julgar, não ponderar. Como é bom saborear esta ataraxia solitária em plena madrugada. Como é bom despir-me de quem sou e vestir a sombra de quem sou por breves momentos. Momentos finitos, momentos que se perdem num lugar abstracto. 

19 de agosto de 2011

Submarino.

Vivo mergulhada neste espaço vazio e tão cheio ao mesmo tempo, nesta solidão a transbordar de pensamentos onde o óxigénio falha. Sufoco, sufoco em mim, na minha mente e olho em volta. Olho em volta e não estás. Saio da minha esfera difícil de quebrar, espreito a realidade e, rapidamente, sou de novo absorvida por esse mundo paralelo de ideias cruzadas, emaranhadas, turvas.
Levaste a minha razão contigo, é um facto. Por isso levitei até este espaço estranho que me acolheu e me engoliu. Preciso que voltes rápido e que me soltes, que rasgues as amarras que me prendem a este sítio profundo onde me encontro sentada, em estado autista, a ver a realidade a uma distância considerável. Quase que lhe consigo tocar mas há algo que se interpõe. Às vezes consigo mesmo alcançá-la, esticar a mão levemente para que possa flutuar neste mar de lágrimas e sentimentos que amarram com tanta força que até fazem sangue e deixam marcas nos pulsos. Mas não sou bem sucedida. Porque faltas tu e só tu. Porque há 605km entre nós. Ao menos consigo sentir o calor do teu coração.

11 de julho de 2011

insónia.

Mente controversa, cheia de questões e incertezas. A insónia tem sido uma constante; tem fitado o escuro na procura de contornos, de formas, de soluções. Na noite tem tentado encontrar a luz, em vão. E vira-se para um lado e para o outro. Leva as mãos à cara, esfrega-a inúmeras vezes, sente os olhos inchados, doridos. Isto já é uma rotina. Enrola o lençol contra si, com força, na tentativa de se sentir segura, confortável, em vão. A solidão pesa na atmosfera, o negrume torna tudo mais frio, mais triste, mais instável. O pensamento continua revolto, vagueando em círculos. As horas avançam, a vida é que não. O tempo passa, a vida também. No ar ecoa o tique-taque do relógio. O desespero continua. Nesta altura, outros devem estar a sonhar, num universo paralelo. Ela já nem sabe muito bem o que isso significa. Apenas sabe o que é querer voar e não ter asas - e ter de viver com isso. As lágrimas caem, uma após a outra. Os dentes mordem com força os lábios. Tudo poderia ter sido diferente.
Chegou a hora pela qual ela sempre mais anseia - a hora de levantar. Até logo insónia. Despe-se com nojo. Vai para o duche. Água gelada cai em cima da cabeça baixa. A água lava tudo.
As típicas calças de ganga rotas, gastas. É só bater a porta e ir para a rua, o mundo está pronto para vê-la. Ela é que não consegues encará-lo, interpreta cada olhar como uma injúria, um julgamento e por isso não caminha de cabeça erguida. O caminho já está memorizado. Ela está em modo automático. Já nem olha para os dois lados da estrada e por isso os carros apitam e gritam palavras que já não ouve.
O vento sopra bem junto a ela, tenta envolvê-la. Mas ela já nem sabe o que é saborear a brisa do vento.
De repente, pára de andar.
Olha em frente.
Há que seguir uma nova direcção, um novo rumo onde a insónia, as lágrimas ou o medo não terão lugar.
Ela sorri. E volta a sorrir.
Volta para casa, abre todas as janelas, deixando sair o ar pouco oxigenado. Abre o armário bruscamente. Atira a sua roupa para uma mala enquanto rodopia ao som da música do seu leitor de CD's empoeirado.
É hora de partir para um novo lugar.
Recomeçar.


30 de abril de 2011

Súbita Invasão.


A noite cai por cima das árvores, esmagando-as com a sua imponência. É a tristeza destas que traz o escuro, o negro. É a tristeza delas que faz as estrelas brilharem e a lua balouçar na sua palidez reconfortante.